E para isso ele até roubou dinheiro
Dos ceguinhos que viviam na sarjeta a mendigar
E não podia ser mesmo diferente
O traçado do destino: foi parar na EPCAr
Ele queria logo, logo se formar
E se tornar o zero-um do esquadrão
Sua vingança era poder pilotar
E se jogar contra o pai num avião
Mas diante dos meninos de sua idade
Casca Fora tinha instintos que ele à força camuflou
Durante os três anos da Preparatória
Sua mente era um misto de desejo, ódio e dor
Não entendia como a vida assim pregava
Essa peça contra ele, o bastardo vingador
Virar boiola não era sua proposta
E virou-se contra a turma, resolveu ser delator
E assim pensando, sempre bancou o santinho
Mas vivia só na moita, a espionar
E a turma tinha dele boa imagem
Mas por trás da camuflagem
Estava Tião a boicotar
Dizia ele: - Esta turma é minha vida
Em BQ melhor esquadrão não há
Na escuridão, uma ave de rapina
A cobrir de vergonha a EPCAr
E Tião, o camofo vira-bosta, jurou que levaria o plano até o final
Mesmo tendo de sacrificar sua mocidade
E sujar a bela história da terra natal
- BQ, minha cidade linda...
Cê ainda vai ouvir de mim falar
Em pouco tempo vai estar no jornaleiro:
" A Vingança do Espião da Mete Bronca"
E planejou uma lista de iniqüidades
Para abalar o ânimo do esquadrão tão vibrador
E começou levando aluno interessado
Em dar VI pras bandas lá do Trigonô
Um puteiro que havia em Barbacena
A mãe dele era gerente lá
Seu nome era Cripta e ela vivia
O seu bigode sempre a cofiar
E Casca Fora até altas horas cepava
Mas a cepa nunca dava para a zero-um chegar
E ele sabia: tinha gente que porrava
Sem ter que pegar nem mesmo num livro pra estudar
E ele não queria tal coceba
E decidiu que com aquilo ele de vez ia acabar
Elaborou mais uma vez um plano infame
E assim surgiu a cepa obrigatória
Logo, logo, o esquadrão mais veterano soube do primeiro ano
-Mete Bronca está aí!
E Tião de Casca Fora, mesmo bicho
Era peixe dos " vetera" dali
Fez amigos, freqüentava o H-8
E deu trote nos colegas, sem se revelar
Mas de repente
Sob um mar de bombas-d'água Mete Bronca invadiu
E começou a atacar
Dessa primeira vez ele escapou
E Mete Bronca não notou a sua sordidez
Aquele vírus camofo em seu corpo
- Vocês vão me pagar diez, diez, diez, diez...
Agora o Casca Fora era bichano
Respeitável, insuspeitável bicho do segundo ano
Não tinha medo de bicho papão
Catatau ou Brig Jaba, Pony-boy ou veterano
Foi quando conheceu uma camofa
E de todos os seu planos ele por ora se esqueceu
Vera Chiclete tinha um bigodinho lindo
E uma depilação prá ela o Casca Fora prometeu
Ele queria ser um homem com H
E pensou em até se converter
- Vera Chiclete , contigo vou casar
E diez filhos contigo eu quero ter
O tempo passa e um dia um tal Damassa,
Rato de biblioteca, desconfia então
Que as agruras da turma de 84 tinham a ver com a profecia
Que ele achou num porão:
" Vai ser estampa em banca de jornal
A cruel e vil vingança
De um camofo espião
E ele vai meter bronca em Barbacena
E vai nascer com apenas quatro dedos na mão"
Mas pior do que criar uma cobra em casa
Era não saber quem era o aluno-escorpião
Que ocultava o ódio no olhar, e no rabo o veneno
Com malícia e precisão
- Mete Bronca, vou ferrar sua vida, então...
- Mete Bronca, vou ferrar sua vida, então...
Essas palavras eram prece prá Tião
E sofreu as conseqüências o esquadrão
Sabendo que a turma estava perto
Da verdade, ele esperto, bolou plano auxiliar
Criou um bizout e no meio da bizuzeira
Espalhou que havia um outro espião em seu lugar
Não hesitou em denegrir nenhum parceiro
Fosse atleta ou sugueiro, ele queria difamar
E inventou que um espião da Bielorússia
Infiltrou-se bem na turma para atazanar
E acontece que um tal de Konstantin,
Sobrenome Pigatov, aluno exemplar
Coube certinho nos boatos de Tião
Mas decidiu que não seria um bode a expiar
E Tião tinha um AK-47
Que ele roubara na Instrução Militar
E decidiu de uma vez pintar o sete
Provocando um incidente sem par
Casca Fora, boateiro sem-vergonha,
Chupa-rola, morde-fronha,
Fez BQ se rebelar
Recrutava camofos inocentes
Uma turba de dementes, pra lutar contra a EPCAr
E Casca Fora há muito já não barangava
Sentiu saudades de um bigode beijar
- Eu vou no Sovons, vou ver Vera Chiclete
E só depois a rebelião vou liderar
Chegando lá Tião chorou
Pela honra desonrada uma segunda vez
Com Vera Chiclete Pigatov furunfou
E um camofo nela ele fez
Casca Fora explodiu de ira por dentro
E então com Konstantin um duelo ele marcou
- Amanhã, às diez horas, em Xaralândia,
Bem em frente ao Meia Lua.
Konstantin topou:
- Você pode rezar pras suas almas
Que eu acabo mesmo com você, camofo traidor
Mas não luto por Vera Chiclete,
Por que ela já traçou a turma inteira no boquete
Pigatov não sabia que ia ser
A vítima de outra traição
E foi sozinho pro duelo em BQ
Chegou na hora e no local marcado então
No sábado, à noite, às diez horas
A camofagem sem demora
Foi linchar o Konstantin
Insuflados por Tião de Casca Fora
E o Pigatov viu
Que aquele era o fim
Corria o sangue já ladeira abaixo
Tião olhou pras baranguinhas e camofos a aplaudir
E olhou, mas não viu nenhuma câmera
De jornal ou de TV prá filmar aquilo ali
Então notou que fora em vão sua vingança
Que a profecia não ia se cumprir
O mundo não soube de sua lambança
E nem do que haveria a seguir
Konstantin então abriu os olhos
E era a Vera Chiclete que ele viu então
Ela trazia o AK-47
A arma que ela roubou de Tião
- Casca Fora, seja homem, veja se morre de pé
E não de quatro, feito um viadão
Tu nunca mais, filho-da-Cripta, sem-vergonha,
Vai ferrar a Mete-Bronca
Vá pro inferno, camofão!
E Pigatov com o AK-47
Deu diez tiros no camofo traidor
Vera Chiclete nunca mais pagou boquete
E virou freira em Conselheiro Lafaiete
E este "causo" não faz parte da história
Porque essa luta inglória
Quem viveu quis esquecer
E o alto comando da escola
Apagou todos os registros
Que havia pra se ler
E Tião não conseguiu o que queria
Porque o pai está em Brasília e não cursou BQ
A profecia nos salvou um presidente
Mete Bronca, minha gente,
Pro Brasil crescer!!